O governo de José Eduardo dos Santos, também líder do partido que está no poder há quase 40 anos, o MPLA, e também Presidente da República – sem nunca ter sido nominalmente eleito – há 36 anos, reagiu, às críticas do Parlamento Europeu.
Por Orlando Castro
C ríticas às repetidas violações dos direitos humanos, bem como à corrupção. Críticas feitas por quem, é claro, ainda não percebeu a adiantada fase de uma democracia e de um Estado de Direito que, a nível mundial, só é ultrapassada pela Coreia do Norte.
Em comunicado, o governo do “querido líder” contesta “a gravidade” do conteúdo da resolução do Parlamento Europeu que, segundo a análise do MPLA, do Governo e do Presidente da República – ou seja, de Eduardo dos Santos – retrata um país que “não é seguramente a República de Angola”.
E não é com certeza. O Parlamento Europeu deveria saber que Angola é um paradigma democrático, bem como um exemplo mundial da luta contra a corrupção e do respeito dos direitos humanos. Isto é tão certo como as zebras terem penas. Vejam se entendem isso de uma vez por todas.
Na apreciação do “escolhido de Deus”, a resolução, que teve por base um relatório da eurodeputada portuguesa Ana Gomes, do Partido Socialista (a cuja família, a Internacional Socialista, também pertence o MPLA), que visitou o país em Julho, mantendo encontros com membros do governo e da sociedade civil, contém “inverdades, especulações e factos grosseiramente manipulados pela autora, cujas conotações com certa oposição angolana são por demais conhecidas.”
Mais uma vez o líder divino tem razão. Soubesse Ana Gomes quem é o dono da verdade, soubesse que o MPLA é Angola e Angola o MPLA, soubesse que essa “certa oposição” é constituída por uma subespécie de angolanos, então não teria escrito as asneiras que escreveu e que – é claro – constituem um crime contra a segurança do Estado e indiciam uma tentativa de golpe de Estado.
“Os direitos à liberdade de associação, à liberdade de reunião, o acesso à justiça e ao julgamento justo, à liberdade de expressão e de informação, à liberdade de Imprensa, à liberdade de consciência, religião e culto, à liberdade física e à segurança pessoal, ao ambiente e à livre iniciativa económica, foram questionados pelos parlamentares europeus, tendo como único fundamento opiniões insultuosas motivadas por convicções e objectivos políticos desse membro do seu parlamento que desprezou o trabalho que vem sendo realizado nos últimos 40 anos de independência nacional por todos os angolanos em condições por vezes muito adversas na construção de uma Nação livre, justa e soberana”, lê-se no comunicado de Eduardo dos Santos.
A clamorosa falha de Ana Gomes, dir-se-ia mesmo o clamoroso crime, deveu-se igualmente ao facto de se ter esquecido de dizer qual é o seu preço. Aliás, nem precisava de dizer o preço, bastava dizer que estava à venda. Se o tivesse feito teria recebido um cheque presidencial, assinado e autenticado, em branco. Só teria de colocar o valor que entendesse mais justo. É claro que também poderia optar por receber uns caixotes diplomáticos abarrotados de dólares.
“De facto, consideramos irresponsável que se aborde de forma leviana os procedimentos e acções das instituições angolanas, pondo em causa o exercício de direitos, a sua independência e questionando processos que se encontram em curso de acordo com a lei”, diz a nota que mereceu a concordância do Presidente do MPLA (José Eduardo dos Santos), do chefe do Governo (José Eduardo dos Santos) e do Presidente da República (José Eduardo dos Santos).
O “Estado angolano prima pelo respeito dos direitos dos cidadãos consagrados pela Constituição e tem como instrumentos fundamentais os órgãos de justiça que realizam um trabalho árduo e transparente com vista à protecção desses direitos”, afirma o governo/MPLA/Eduardo dos Santos.
Não diz, nem precisa, que a Constituição é um documento que só tem validade no que interessa ao regime, e que os ditos órgãos de justiça são meras correias de transmissão dos interesses do MPLA, onde pontificam sipaios que se limitam a cumprir as ordens do chefe.
A finalizar, o comunicado afirma que o governo de Angola “rejeita categoricamente o conteúdo da Resolução e lamenta que uma instituição credível se tenha deixado enredar por informações caluniosas, não considerando, por isso, as suas recomendações que em nada beneficiam a cooperação entre Angola e a União Europeia”.
Perante este aviso, esta chantagem, a União Europeia tremeu e há quem diga que pode desmoronar-se quando o regime de Eduardo dos Santos entender. São já muitos os europeus que temem o espectro do fim da Europa e, por isso, pedem a bênção a… José Eduardo dos Santos.